Notas
Diversidade
Falta diversidade na atenção em Saúde? Saiba o que pensa quem está se formando na área:
Por Juliana Cristina e Juliana Mastrullo
- De várias origens e perfis, estudantes refletem sobre diversidade na formação em saúde;
- Residentes do HSP/HU Unifesp opinam sobre inclusão e saúde no futuro.
“Precisamos de um lugar seguro para nos encontrarmos e compartilharmos experiências”
Se sentir acolhido(a), representado(a) e respeitado(a) no ambiente hospitalar, esses são alguns dos anseios mencionados pelos(as) residentes do Hospital São Paulo (HSP/HU Unifesp), que conversaram com a TáNaMão. Além de suas experiências no programa de residência, eles(as) refletem e compartilham seus pontos de vista sobre a importância da diversidade em suas formações e da saúde que esperam para o futuro.
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DIEGO: Esperança em um ambiente hospitalar representativo e acolhedor
Diego da Silva Costa, 23 anos, residente de Fonoaudiologia da Urgência e Emergência
Graduado em Fonoaudiologia e residente em Urgência e Emergência no Hospital São Paulo desde o início de 2022, Diego da Silva Costa é um homem gay de 23 anos. Apesar do medo da possibilidade de trabalhar em hospitais com pouca representatividade sexual e do sentimento de não pertencimento diante de algumas situações, sua visão sobre diversidade na formação em saúde exala esperança no futuro. Diego sente que o HSP/HU Unifesp, por ser um hospital-escola, tem maior diversidade entre residentes. Ele acredita que isso melhorará ainda mais com sua geração, por notar que estão pensando de forma mais ampla nos públicos e entendendo a importância de dar atenção aos(às) pacientes, além do tratamento. “Estamos caminhando. É como se estivéssemos dando pequenos passos, mas evoluindo. Ainda falta, sim, representatividade, principalmente em cargos mais altos. Acredito que uma das coisas que pode ser feita para melhorar isso seja usar as redes sociais, porque mesmo quem está longe verá que aqui tem LGBTQIA+ e que podem ter voz. O ambiente hospitalar é pesado, então, é importante mostrar às pessoas que também é um lugar acolhedor e incentivar a representatividade para que vejam que podem estar aqui, crescer, trazer mais cor e brilho para o hospital”.
MARIA ELOISA: Acesso ao ensino superior - “Oportunidades fazem toda a diferença"
Maria Eloisa Santiago, 27 anos, assistente social
Mulher, preta, lésbica, filha de empregada doméstica e a primeira de sua família a ter acesso ao ensino superior público, Maria Eloisa Santiago, aos 27 anos, é graduada em Serviço Social e residente na Unifesp, a qual revela ter sido palco de seu processo de autodescoberta e mudado sua vida. Infelizmente seu caso ainda é exceção e ela tem consciência de que muito precisa ser feito para que o acesso às universidades pela população LGBTQIA+ e negra seja uma realidade e não um diferencial. “Oportunidades fazem toda a diferença; e, estamos onde estamos, em um contexto com cada vez menos oportunidades para determinados recortes populacionais, por conta da ascensão de pessoas que acham que cor da pele e sexualidade são coisas que podem diminuir as outras”. Maria espera que a saúde do futuro seja do reconhecimento, do poder ver-se e sentir-se acolhido(a) em espaços que reconheçam seus/suas profissionais, tenham comprometimento com a saúde mental desses(as) e conheçam a população que os(as) acessa. Sobre o futuro do(a) assistente social na saúde, espera que esse(a) não seja visto(a) como subalterno(a) ao(à) médico(a), porque a saúde que quer é ampla e tem a ver com muitas coisas. “Um dos grandes desafios que a Unifesp tem é pensar sobre isso; mas acho que todos(as) fazemos parte da construção de uma realidade diferente; também tenho que contribuir para que outras pessoas como eu cheguem aqui.
VANESSA: Representatividade deve ser assunto de discussão nos programas de residência
Vanessa Santos da Luz, 28 anos, residente do Programa de Cardiologia
Vanessa Santos da Luz, 28 anos, é enfermeira e residente de Cardiologia no Hospital São Paulo. Como mulher lésbica, experienciou situações homofóbicas durante a formação e, apesar da menor frequência, isso ainda acontece. “Falta representatividade e falar mais sobre isso, sobretudo na residência; no mês da visibilidade lésbica questionei não ter visto pautas sobre o assunto; me senti deslocada”. Um de seus maiores desejos é que sua orientação sexual seja tratada com naturalidade; e, pensando na questão da saúde, acredita que é preciso entender que a diversidade faz com que os(as) profissionais tenham olhares individualizados e contribuam de maneira específica com os(as) pacientes. Ela reflete que seria interessante ampliar a representatividade e incluir residentes em ações como as que participou na Liga Acadêmica, na graduação, onde os(as) estudantes discutiam assuntos ligados à comunidade LGBTQIA+, direitos humanos e sexualidade, enquanto membros e profissionais da saúde que cuidam desses. “Precisamos de um lugar seguro para nos encontrarmos e compartilharmos experiências. Temos muito o que caminhar, mas acredito que as pessoas tendem a ficar mais abertas. Obviamente tem uma parte conservadora da população que endossa o preconceito, mas, dentro do HSP/HU Unifesp, sinto que em muitos ambientes é tranquilo, é seguro”.